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“Nossos Momentos (ao vivo) – Por Gustavo Henrique Coelho.

“Lançado em 1982, o álbum “Nossos Momentos” registra os shows gravados no Canecão no Rio de Janeiro, entre os dias 29 de Setembro e 03 de Outubro do mesmo ano. Foi produzido por Perinho Albuquerque. Contando com direção geral de Bibi Ferreira e musical de Gilberto Gil, o show contava com um cenário em azul e branco, onde em suas roupas brancas e pés descalços, Bethânia enfileirava sucessos, que reuniam composições de seu irmão Caetano Veloso, da portuguesa Amália Rodrigues, de seu amigo Gonzaguinha, do sempre presente Chico Buarque, dentre outros.

O disco inicia com uma versão tropical, executada pela banda, de “Maria Bethânia” composta por Caetano em seu exílio em Londres. Em seguida, entra o primeiro dos muitos medleys do show, que continha os primeiros versos de “O que é, o que é” de Gonzaguinha, que se tornaria o bis clássico de suas apresentações. Tendo ainda trechos de “Eterno começo / Grito de alerta / Explode coração / Sangrando”, Bethânia já anunciava o que seria uma constante nas próximas faixas: a intensidade de sua interpretação.

Em seguida, vem a inédita faixa título “Nossos Momentos”, também composta por seu irmão, que traz uma “ode” de amor e devoção ao seu lugar no palco, e ao lugar dos fãs na plateia. Em “Gás Neon” e “Luzes da Ribalta”, Bethânia retoma os tempos de “A Cena Muda”, em versões bem semelhantes às originais, num modo de cantar que entrega o lamento e a introspecção presentes nas letras das duas canções. Em “Prenda”, composta por Joyce, canta-se o amor romântico em suas muitas faces. Em “Com Certeza” e “De noite e de dia”, o contraste da voz de Bethânia com o coral e o andamento acelerado, lembram marchinhas de Carnaval, e são muito bem executadas.

Para finalizar o lado A, temos o sublime Medley de “Anda, Luzia / Mal-me-quer / Ta-hi (Pra você gostar de mim) / Não me diga adeus / Máscara da face / Mora na filosofia / Soneto de fidelidade / Como dizia o poeta”, nesse mix de várias canções dentro de uma só, temos o que eu considero ser o melhor momento do disco, e um dos meus favoritos da carreira de Bethânia: ouvi-la recitando Soneto de fidelidade. Nessa interpretação, vemos a qualidade da sua dicção, ao pronunciar as palavras de forma acelerada, e todavia, sem errar nenhuma. Ao final quando ela pronuncia com toda a sua alma a frase “que seja infinito enquanto dure”, quem tem o mínimo de emoção, irá sentir seus braços se arrepiando, ou mesmo o coração batendo mais forte.

Para iniciar o lado B, temos um cover, na junção das faixas “Baila Comigo” e “Shangrilá”, compostas e gravadas por Rita Lee em 1980, não fugindo muito das versões originais. Em “Doce Mistério da Vida”, Bethânia retoma a música que executava com seu irmão Caetano, na turnê que os dois fizeram juntos em 1978, sendo essa uma versão em português da música “Ah! Sweet Mistery of Life”.

Em seguida, temos “Vida” de Chico Buarque, numa versão magistral com a guitarra de Ricardo Silveira, que nos faz pensar que a música foi feita exatamente para ela cantar. Em “Cantico Negro”, temos uma interpretação sombria do poema de José Régio, novamente, fazendo com que quem ouça fique simplesmente hipnotizado pela voz de Bethânia. Em “Estranha Forma de Vida”, temos uma versão brasileira do clássico da portuguesa Amália Rodrigues, com um belo acompanhamento no piano de José Maria Rocha, substituindo a guitarra portuguesa do fado original. Em “Canção da volta”, vemos o arrependimento e a melancolia como tema central da canção, cuja voz é acompanhada pelo piano, uma leve percussão, tendo o saxofone tenor como grande destaque.

A penúltima faixa, traz o derradeiro Medley, “Último Pau De Arara / Pau De Arara / Carcará”, esta última, canção clássica de Maria Bethânia, num arranjo revigorado pelo coral feminino, faz a faixa ser renovada. Por último temos de volta a canção “O que é O que é”, desta vez numa versão completa, e pela primeira vez encerrando o show, coisa que Bethânia repetiria por muitos espetáculos posteriores.

Os pontos principais do álbum são a renovação de algumas canções antigas, covers excelentes e arranjos bem característicos da sonoridade dos anos 80, mas que aqui se apresentam muito mais refinados e sofisticados.

Ainda é importante dizer que o álbum não traz todas as músicas que Bethânia cantava na turnê, porém, é inegável que ele se mostra um importante meio de se conhecer mais sobre esse período de sua discografia, além de ter interpretações magistrais que nos mostram o porquê dela ser considerada uma das maiores vozes do país.

Gustavo Henrique Coelho da Silva.