“Sou eu que me deito tarde/ Sou eu que levanto cedo/ Sou eu que realço tudo/ Sou eu que não tenho medo…”
É assim que começa Drama – Anjo Exterminado de 1972, sucessor de Rosa Dos Ventos e primeiro álbum de estúdio de Maria Bethânia. Trata-se que o álbum é dividido em dois atos, o primeiro, começando com Ponto, do Folclore Baiano, onde Bethânia impõe sua presença no inicio do álbum, para depois transitar para uma voz doce e calma, personificando a alma feminina da música “Esse Cara”, de Caetano Veloso, terminando a faixa com um pequeno trecho do clássico brasileiro “Bodas De Prata” de Mario Rossi e Alberto Martins, música revivida pela cantora. Em seguida, Bethânia transita pelo samba “Volta Por Cima“, famoso em sua voz e até hoje fazendo parte de alguns shows. “Bom Dia” do compositor Herilton em parceria com Aldo Cabral é revivida novamente pela Maria Bethânia, trinta anos após seu primeiro registro. Antes de encerrar o primeiro ato, com “Anjo Exterminado” de Jards Macalé e o poeta Wally Salomão. E para encerrar o ato, “Maldição“ de Alfredo Duarte e Armando Vieira Pinto, um samba dramático, com Bethânia cantando acapella, com alguns instrumentos acompanhando no fundo.
Bethânia tras pra o segundo ato do álbum “Iansã“, uma oferenda musical de Caetano Veloso e Gilberto Gil, para a Rainha dos Raios. Para passar para outras emoções, Bethânia apresenta sua primeira composição gravada: “Trampolim“. Letra da cantora e música de Caetano Veloso. “Negror dos tempos“, também do Caetano, vem aí pra suavizar o clima dramático e trágico do álbum, com a voz doce de Maria Bethânia cantando junto com um piano, até a segunda e última parte da canção: uma transição para um instrumental com trompetes e percussão. A graciosa e clássica “O Circo” em um som agradável e o teatral canto da cantora. Junto com o conjunto Terra Trio, Maria Bethânia interpreta até então o inédito samba de Luiz Melodia, “Estácio Holly Estácio“. Para encerrar o segundo ato e o álbum, “Drama” de Caetano Veloso, que dá o nome ao álbum, em um angustiado canto, limpando no pano de prato as mãos sujas de sangue das canções.
Além de ser um repertório incrível com interpretações incríveis, esse é o disco que nos presenteia com uma Bethânia diferente do que havíamos conhecido em Opinião, sua estreia, e em Rosa Dos Ventos. Com novas sensações; novas, inéditas e revividas composições; histórias, personagens e situações, interpretadas pela voz firme e poderosa de Maria Bethânia.
Esse álbum ganhou um espetáculo no ano seguinte, que é o terceiro e último ato, Drama-Luz Da Noite, com textos de Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Luiz Carlos Lacerda, entre outros autores.

Gravado ao vivo no Teatro da Praia – 1973