“Estava a caminho do Itaú Cultural quando recebi o convite para escrever este texto. De imediato, me senti honrada e emocionada. Foi bonito e significativo. Lucas, que não sabia que eu estava na cidade e muito menos que iria visitar a exposição, ter feito o convite ali, naquele momento exato… Parece que aquele primeiro contato que Bia fez comigo, em julho, estava concluindo ali.

Finalmente, consegui vencer o trânsito!
Logo de cara, uma foto de Bethânia estampada na frente do Itaú Cultural impactando até quem passava do outro lado da Avenida.
No primeiro piso, vejo saquinhos com água e terra pendurados. Também estão espalhadas, sem ordem cronológica, diversas fotografias suspensas, que contam um pouco do universo de Bethânia, da sua Santo Amaro, sua fé e família. Além disso, é possível ver algumas frases ditas por ela e por poetas que marcam sua vida refletidas no chão.
De repente, algo me surpreende: enquanto caminho pelo espaço e observo as fotos com calma, noto algumas pessoas sussurrando e cantarolando juntas… e aí percebo o Hino de Nossa Senhora da Purificação ao fundo. Me senti emocionada ao ver as pessoas caminhando entre as fotos e entoando baixinho: “refúgio e consolação, no perigo e na abonança, doce mãe da purificação”. De fato, ela ocupa e toma tudo e todos. Quando estava quase seguindo para a segunda parte da Ocupação, outro som me tomou. Dessa vez, chorei. Era Dona Canô cantando “Último Desejo”, de Noel, enquanto eu olhava as fotos de Santo Amaro.

Indo para a segunda parte da exposição, ao lado da escada, um tecido vermelho imenso com o nome de Bethânia escrito várias vezes em letras garrafais e que balança com um vento proposital.

Quando chego no segundo piso, a primeira coisa que me chama a atenção são os nomes de artistas amigos, poetas, pessoas importantes em sua vida, que estão escritas no teto.

Na sequência, os bordados inéditos que ela fez na época do isolamento da pandemia. São bordados simples e delicados, linhas, palavras, pensamentos… Fiquei feliz em ter contato com esse outro lado da pessoa-artista.
Na sala, ainda no mesmo piso, uma composição de televisores apresentam uma Bethânia através de depoimentos, falas de amigos, família, que é exibido em looping e refletido nas águas.
O fato dessa artista imensa estar num espaço acessível e saber que muita gente vai entrar ali e conhecer um pouquinho mais sobre ela é a grande alegria.
Seria impossível traduzir o todo, mas a Ocupação oferece uma linda visão, nos faz refletir e querer mais.
Ela te transporta para o mundo de Bethânia, que ora flerta com o mágico, ora te traz para a realidade. Traz o lúdico e a lucidez. A água, a terra e o vento.

Maria Bethânia é Maria Bethânia por tudo aquilo que está exposto e a faz ocupar. Maria Bethânia é Maria Bethânia por causa da Bahia, do recôncavo, de Santo Amaro. Maria Bethânia é Maria Bethânia por causa de Dona Canô e Seu Zezinho, por causa de Mabel, Roberto, Caetano…
Nascer e ser criada diante todo esse contexto e sensibilidade artística e intelectual é, de fato, uma bênção, um alinhamento único dos astros.
Maria Bethânia é o Brasil escancarado.
Se algum dia eu esqueci disso, essa Ocupação veio para me lembrar e afirmar. “